Continuo uma grande ingénua... e gosto-me assim.
Lembro-me como se tivesse sido ontem:
-És a mulher mais linda que eu já vi!
Eu acreditei, com toda a inocência que só uma criança consegue ter, com a mesma ingenuidade com que se acredita no Pai Natal… naquele dia, quando ele me disse lá de cima do monte de feno, que eu era a mulher mais linda que ele tinha visto, eu acreditei piamente, soube que era assim... mais tarde depois de um beijo muito tímido no rosto, mas verdadeiro como nunca nenhum outro será, disse-me por entre um sorriso rasgado e o olhar puro, daqueles que já não há:
-Quando formos grandes, vou casar contigo e vamos ser felizes como a minha mãe e o meu pai!
Sorrimos como que selando aquela promessa, saltámos pela milésima vez do monte de feno do Ti Joaquim e fomos a correr para casa que se fazia tarde.
Durante muito tempo acreditámos que o resto da nossa vida ia mesmo ser assim, partilhada, ás gargalhadas, cheia de nódoas negras e castigos, mas tão feliz...
Hoje em dia quando me dizem algo do género, aquela melodia já não me soa tão bem ao ouvido, mas procuro sempre acreditar, aliás o meu sorriso denuncia logo a alegria de o ouvir, a ingenuidade dentro de mim ainda me deixa pensar que é verdadeiro, quem me diz algo tão simpático tem que ter a consciência de que se mo diz é para eu acreditar, é para eu sorrir.
Mas é mais simples pensar imediatamente que se estão a meter connosco, ou que estão a gozar, ou que estão a dizer aquilo só pra não dizerem que afinal somos só mais uma, criamos um escudo e preferimos acreditar que ninguém nos pode dizer a sério que somos especiais, lindas.
Eu gosto de passar na rua, ver uma velinha e dizer-lhe que é bonita, com toda a veracidade quanta a alma mo permite, e é um regalo ver o brilhozinho nos olhos enquanto oiço, 'Já fui já, no meu tempo...', mas a verdade é que não há tempo pra ser linda, não há idade limite pra se dizer, ou sentir, ou ser e não temos que ter vergonha de expressar o que pensamos, principalmente se esse ‘pensar’ vai fazer alguém mais feliz…