Adoro quando acordo e percebo que está a olhar para mim contemplando, ou talvez para o nada, para o horizonte, ou se calhar para a memória do que fomos ali há pouco tempo atrás.
O meu primeiro sorriso do dia, partilhá-lo com alguém… espreguiçar-me, bocejar, ajeitar os cabelos e aquele olhar mantém-se intacto, quase hipnótico, um leve sorriso, desperta em mim um desejo apenas adormecido… recomeçar… devagar…
Queria perpetuar aquele momento belo, entre o que já foi e que o que há-de ser, aquele intervalo maravilhoso entre o paraíso e a doce realidade…
Houve uma altura da minha vida, em que o que desejava mais que tudo, naqueles momentos intensos e sempre únicos, era obter um maravilhoso e poderoso orgasmo, era quase como se todo o momento, toda a sedução, todos os toques, todos os gemidos, tivessem um só propósito… chegar lá.
Tudo o que queria mesmo, eram aqueles momentos fugazes de puro êxtase, de completa loucura, de respiração entrecortada, de calafrios ou suores frios, não importava mais nada, não importava como, queria chegar ao clímax e muito...
O que era de facto bastante prazeroso, o que me fazia e faz de facto, um sorriso bestial e um bem estupendo à pele, ahahaha, eu sei… mas acho que já não quero tanto chegar lá… não assim.
Quer dizer, continua a ser incomparavelmente belo, inigualável, maravilhoso, poderoso, o acto de sentir um orgasmo, a completa liberdade do momento, por vezes tão intenso que não consigo sequer mover-me, reagir, só tremer, completamente possuída, realmente bom, mas agora o que aprecio mais é todo o caminho para chegar lá e se no fim não obtiver um selvático orgasmo, mas se todo aquele percurso foi prazeroso e bem aproveitado, então valeu a pena.
Acho que percebi que a piada de subir uma montanha, não é só chegar ao topo, mas contemplar tudo o que temos até lá chegar, aproveitar cada pedaço de natureza, ou de corpo, ou de alma, fazê-lo ao nosso ritmo, da forma que mais prazer nos dá, percebendo as diversas etapas, senti-las, querê-las…
E no fim, quando lá chegamos e porque conseguimos lá chegar, então aí sabe muito melhor olhar cá para baixo, para o infinito como é afinal o prazer e sentir que aproveitámos cada centímetro daquele percurso, do momento, saber que tudo fizemos para lá estar … no topo, que é afinal onde merecemos estar…
Subir a uma montanha deve ser mais difícil que alcançar um orgasmo, quer dizer havendo a questão do seu tamanho, mas tem como principio valorizar e preparar antecipadamente todos os passos, de modo a ser perfeito… e uma vez lá em cima, é só olhar em redor e contemplar o horizonte…