Eu sou mesmo tímida!
Não é a revelação do ano, mas é engraçado como a minha timidez se desenvolve de maneira, talvez peculiar, das demais.
Normalmente as pessoas são tímidas num primeiro contacto, num primeiro encontro, numa primeira abordagem, enquanto desconhecidos… eu não.
Como primeira impressão e já que não tenho nada a perder, digo exactamente o que penso, sou como gosto de ser, não me inibo de falar seja do que for e tenho assunto para tudo, sou incisiva, livre, aberta, sou completamente descomplexada.
Após este primeiro ‘confronto’ e se há um próximo, sinto-me cada vez mais, a ficar retraída, a começar a medir o que digo, a ficar-me pelos sorrisos…
Ora isto se calhar nem tem nada de espectacular, sendo eu mulher, mas a mim faz-me alguma confusão, porque afinal o que me intimida é o conhecimento mais aprofundado de mim e sobre mim, quando inclui algo de pessoal, sentimentos… beijos…
Quando o assunto começa a ser ‘eu’, privado, aí vem a timidez, que chega sem avisar, fico ruborizada, se falo do que sou, ou sinto, fico uma criança indefesa… perceber que tenho medos, receios, lembranças, fragilidades e que mais alguém as conhece… aterrador.
A minha timidez é algo com que não sei lidar, que me prejudica e me condiciona, mas que me ajuda a perceber quem realmente é importante para mim.
Não consigo lembrar-me de algo que me embarace mais, que me intimide mais, do que um primeiro beijo dito amoroso, aquele toque, os fechar de olhos, eu fechar os olhos para alguém é um desafio, a partir daí quebrou-se uma barreira, um beijo tem algo de mágico, ou pelo menos os meus, que não são dados por ‘dá cá aquela palha’.
Considero mais sentido, mais intenso, um beijo, e um beijo daqueles de mão dada e olhos fechados, que uma grande noite de sexo.
Uma noite de sexo é isso mesmo, sexo, sem cobranças, sem sentimentos necessariamente, sem partilha, sem nós, é o corpo… só um corpo.
Agora o acto de beijar, provoca em mim o efeito efervescente, mesmo que não seja o primeiro, mesmo que não seja inédito, porque é sempre verdadeiro, sentido, genuíno.
Quando há um beijo daqueles, a pele arrepia, o friozinho na barriga não desaparece, o arrepio na coluna é incómodo, mas é a melhor sensação do mundo, sou bem capaz de gaguejar depois de tamanha entrega, e volto atrás no tempo, regresso à adolescência e à fantasia acerca do amor e chego mesmo a acreditar que o amor pode ser eterno…
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca
Quando me beija a boca
A minha pele inteira fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada, ai
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos
Viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo
Ri do meu umbigo
E me crava os dentes, ai
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca
Quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba malfeita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita, ai
O meu amor
Tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios
De me beijar os seios
Me beijar o ventre
E me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo
Como se o meu corpo fosse a sua casa, ai
Eu sou sua menina, viu?
E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha
Do bem que ele me faz .
-Olá João! Oh, estás ocupado, desculpa, posso entrar?
-A… olha, não vieste em muito boa altura…
-Pois, eu já vi aí um soutien no chão da sala, presumo que não sejas tu que o uses, mas o que venho aqui fazer, rapidamente se resolve. Bom… sendo que estás ocupado e bem, parece-me, vinha explicar-te que acho perfeitamente normal que tenhas as tuas aventurazinhas pra dar cor à vida, assim engates de uma noite, eu percebo que faça muito bem ao ego masculino… mas sabes que não tenho feitio pra ser a traída, não acho piada, não tem a ver comigo, percebes!
-João, demoras?- disse uma voz ensonada vinda do quarto.
-Querida ele já volta pra aí, espera um pouco, sim? Vai fazendo aquecimento. – disse-lhe com uma voz fria.
-Olha tem calma, isto não é o que tu estás a pensar…
-Ahahahahahaha, João, há duas semanas que trazes mulheres diferentes todas as noites cá para casa, é óbvio que não vêm trabalhar, nem tu tens projectos atrasados, tu até estás de férias… mas não importa, eu sei que não sou eu a péssima de cama, aliás ali a próxima vitima saberá que tu ressonas imenso?
-Eu andava a tentar arranjar uma forma, de te dizer sem te magoar…
-Ahahahahah , o quê? Que me achas piada, mas preferes variar todas as noites de parceira sexual? Estás à vontade, tu não pensas que eu estive estas duas semanas em casa de roupão a chorar por ti, pois não? Aliás nós conhecemo-nos há pouco tempo, mas tu sabes que eu sou completamente louca, ahahahahahahaha
-Desculpa? -a expressão facial dele mudou radicalmente, para um ar perdido, incrédulo, traído, o que me deu um prazer especial.
-Bom, sabes aquele meu amigo que tu carinhosamente apelidavas de cromo?
-Sim…
-Eu liguei-lhe a semana passada e perguntei-lhe se podia ir lá a casa… sabes eu estava tão fragilizada…
-Ele foi?
-Ele tem muito mais apetência para o sexo oral que tu!
Entretanto vem a lady do quarto, já meio vestida, apanhou o soutien, passou por nós, não disse nada, saiu e bateu a porta com tanta força que fez o chapéu-de-chuva que estava ao lado, tombar.
-Olha lá se vai a presa desta noite… mas só pra terminar o que me fez vir cá, queria dizer-te que a primeira gaja que veio cá a esta casa na segunda-feira passada, a que te disse que se chamava Felipa, recordaste?
-Mas…-engoliu em seco, absolutamente atónito.
-Pois, esquece isso, olha ela é a Felipa aquela minha amiga de que te falei, mas nunca chegaste a conhecer como tal, foda-se logo pra primeira tiveste azar! Bom agora vou embora, sabes que as minhas férias começam hoje, foi mesmo uma pena não termos conseguido marcar as nossas férias para a mesma semana. Podia ter sido tão… excitante. Mas vou levar o cromo, que por acaso tem muito menos de cromo que tu e por acaso gosta de estar com uma mulher de cada vez, e respeitá-la … arriverdeci…
-Hoje vou surpreender-te, vou contrariar tudo o pensas que controlas, vou enlouquecer-te, sem que tu vejas… só quero ouvir e ver o teu desejo…
-Vais? Isso tudo? Hummmm …
-Vem cá.
-E isso é para…
-O que estás a pensar…
Beijou-me os olhos, vendou-os com um tecido sedutoramente macio, leve, talvez cetim… um leve arrepio, esta incerteza tem tanto de fascinante como de temeroso.
-A partir de agora és só o que o teu desejo ditar, as tuas expressões corporais, a tua respiração, os teus gemidos… entrega-te…
Ajudou-me a deitar, muito lentamente, consertou as minhas vestes, os cabelos, ajustou a venda…
Enquanto me descalçava, beijava os pés, massajava-os, não sei se atirou os sapatos ou simplesmente os pousou, o silêncio, a calma, excitava-me profundamente.
Desabotuou os botões dos meus jeans , enquanto beijava e lambia em redor do umbigo, sem nunca lhe tocar, eu contorcia-me, o que parecia dar-lhe um especial gozo, pois fazia-o com mais intensidade… e segurava as minhas ancas por onde deslizavam os jeans e beijava cada centímetro de pele que ia ficando descoberto, retirou as calças…
Com algo macio mas firme, que nunca saberei o que era, passeou pelas minhas pernas, virilhas, umbigo, a minha respiração adensava-se, eu mordiscava os lábios.
Levantou a minha camisola preta de algodão, que ia subindo à frente da sua língua, disso tenho a certeza, era macia mas molhada e nervosa, ouvi a respiração forte incontida. Levantei os braços, facilitei a retirada da camisola e essa ouvi-a cair no chão, o peso das lantejoulas fê-la cair bruscamente.
Ficámos ali, um tempo que não sei precisar, mas que se por um lado me pareceu infinito dada a exposição em que eu estava, por outro, foi quase instantâneo, tamanho o prazer daquela descoberta.
Fiquei com os seios desnudados, uma brisa suave, ou talvez toda aquela situação, fê-los arrepiarem, arrebitarem, lambeu-os, apertou-os, o meu primeiro gemido… com uma língua gulosa, desceu abaixo do umbigo, colocou um dedo, brincou com o fogo, agarrei os lençóis com toda a força que pude, contive-me.
Tirou o meu string , de uma só vez, como se estivesse a terminar o tempo, como se fosse impossível aquela espera, senti o meu cheiro, sei que o pousou juntinho ao meu rosto, sorri.
Levantou e flectiu as minhas pernas, ouvi ‘espera amor’, esperei, o que me pareceu uma eternidade…
Senti algo de fresco no meu umbigo, o que por ser inesperado me fez soltar um leve gemido... algo redondo pequeno, fresco, talvez uma uva, que rodopiou no meu umbigo, foi até às virilhas e seguiu para onde depois me fez contorcer, morder os lábios, puxar os lençóis pra mim, encarquilhar os dedos dos pés… naquela cama enorme, quis agarrar-me com as minhas mãos, quis sentir o meu prazer, quis sentir-me, sentir o que me descontrolava, sentir que era real… não me foi permitido.
Ainda com as pernas flectidas, a excitação era tremenda, estava totalmente descontrolada, louca, incontida… ‘agora vou comer… em ti’... enlouqueci de vez… hummmm