Terça-feira, 18 de Abril de 2006

Flute para duas

       Lembro-me de que entraste em casa e vinhas linda, com um brilho especial... subitamente começou a chover…

Aquela chuva miudinha que teimava em bater nas vidraças da cozinha, onde eu estava. Seguiste directamente para a sala e foste consertar a fogueira que eu tinha acabado de acender, segui-te e comentei:

            -Bem, os homens andaram a semana toda a falar do famigerado jogo, o que vale é que ficamos aqui na conversa as duas, hoje não me apetecia nada ir ao estádio.

Voltei para a cozinha e continuei perguntando, como estavas, como ia a relação, não ouvi uma única palavra…

 

Somos amigas desde a infância, sabemos tudo uma da outra, conhecemo-nos por dentro… por fora, passámos por muito juntas e o que não foi a duas partilhámos mais tarde.

A verdade é que a nossa relação já há muito tinha passado a barreira da  simples amizade, havíamos chegado ao nível de cumplicidade em que olhares bastam, sorrisos.

Sempre que precisei de chorar fui a correr para o colo dela, sempre que passou pelos piores momentos, chorámos juntas, mas também rimos imenso, gozámos dos outros, de nós, apanhámos bebedeiras juntas, dormimos agarradinhas, vivemos intensamente as nossas vidas, sempre com mútuo conhecimento. Os nossos amores, as nossas relações sempre tiveram a aprovação da outra.

 

Hoje achei-a estranha.

Passados alguns minutos, chegou-se a mim e perguntou:

            -Estás a beber alguma coisa?

            -Desculpa? Mesmo que estivesse, nunca foste de beber…

            -Bom tira aí uma flute , vou roubar-te um champagne ao frigorífico.

 

Achei-a deliciosamente misteriosa, invulgarmente distante...

Voltou, abriu a garrafa, entornou um pouco, pousou e sem olhar uma única vez para mim, começou:

            -Sabes que ultimamente tenho pensado imenso em nós, na nossa amizade, cumplicidade, nas nossas loucuras e no que nos agrada enquanto mulheres… novas experiências… o fascínio do prazer, a nossa ousadia… a tua sugestão… e decidi… hoje…

 

Olhei para ela com um ar completamente perdido e como se tivéssemos combinado rimos que nem loucas, ruborizámos como se tivesse acabado de me contar uma óptima anedota… ambas sabíamos o que se iria seguir.

Levantou a flute de champagne, deu-me a beber, bebeu e deixou deslizar propositadamente champagne por entre o decote…

Não proferimos nenhuma palavra.

Resolvi desligar o fogão, imaginei que se não o fizesse ia pegar tudo… fomos para a sala, voltou a ajeitar a fogueirae continuava a chover copiosamente...

 

 Para ti, querida Ka...

Escrito por Marisa às 16:48
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Segunda-feira, 17 de Abril de 2006

Sinceridade- género feminino

Termo ambíguo este, quando nos referimos a mulheres,  se calhar temos de associá-lo a outro termo muito abrangente e suí-generis que é a amizade.

É curiosa, a palavra sinceridade no feminino, que é onde se encontram mais... 'variações' de contexto, onde o conceito adquire vários significados, mas todas somos muito sinceras!!!! Ou não...

Vivemos numa época em que todos nos auto-proclamamos de super sinceros e dizemos o que pensamos e mais nada!

E não estamos para fazer fretes, nem para arcar com hipocrisias , o que é, é!

A não ser que estejamos a falar de uma amiga ou então de outra mulher, que vá-se lá saber porquê, nos ficou no goto...

A sinceridade entre mulheres é coisa para ter os seus momentos, depende da ligação com a pessoa e também do nosso humor de momento, senão vejamos:

Ora vêm ter connosco e perguntam-nos como lhe fica aquele corte de cabelo...

Depende, se for a amiga e ainda que a faça 50 anos mais velha e lhe dê uma ar pesado, dizemos com toda a 'sinceridade' e com o nosso sorriso mais naturalmente fingido:

-Quer dizer, não te fica muito mal, faz bem mudar de vez em quando... ;Sinceridade solidária.

Mas se vamos a passear no centro comercial, que é uma espécie de museu para qualquer mulher que adore compras e passa uma jeitosa com um penteadão com o qual andamos a sonhar há anos e ainda por cima lhe fica o máximo, dizemos à amiga que nos acompanha:

-Mas tu já viste o penteado daquela gaja, sinceramente, não deve ter espelhos em casa, fica-lhe horrivelmente mal... ;Sinceridade invejosa.

Depois há as tipas como eu, que normalmente são acusadas de arrogantes ou antipáticas, porque dizem o que realmente pensam sem fazer fretes, o que significa que vão dizer à amiga ou a quem se lembre de lhe perguntar opinião:

-Porra mas estavas a pensar em quê quando mandas-te fazer esse penteado, eu sugeria talvez que fosses lavar o cabelo e fossemos jantar...

Do outro lado, ouve-se a sinceridade, a ditar:

-Podias ser mais meiguinha, é preciso atirar logo a matar, se calhar não me favorece muito, mas as calças que compraste ontem também te fazem um rabo enorme e eu não to disse!

Definitivamente, a sinceridade, pode ter muitas variantes entre mulheres, sendo amigas ou não,  o melhor é termos a nossa personalidade, os nossos gostos e vontades bem definidos e estarmo-nos pouco fodendo para o que os outros pensam de nós!

Escrito por Marisa às 10:10
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Quarta-feira, 12 de Abril de 2006

Intimidades

O que é intimidade, ou até que ponto se é íntimo de alguém ?

A intimidade, inevitavelmente está ligada ao nosso corpo, o que fazemos dele, com ele, a nossa exposição física ...

Mas será o que temos de mais íntimo, o nosso corpo?

Será o nosso tesouro mais bem guardado?

Havendo um alguém a quem nos entregamos, compartilhamos o nosso corpo, será nosso íntimo, um amigo íntimo, um amante...

A verdadeira intimidade, quanto a mim vem da alma, está na nossa essência e ainda que tenhamos um alguém, com quem partilhamos a nossa vida, a nossa casa, ainda assim, pode não nos ser íntimo.

Afinal a nosso corpo é tão pouco, tão vulgar comparativamente à imensidão dos nossos pensamentos, dos nossos medos. O nosso âmago, o mais profundo de nós fica muitas vezes apenas reservado a nós próprios, na realidade nunca se chega a mostrar a nossa verdadeira alma.

E devemos nós expor o que de mais reservado, privado há em nós?

Os nossos maiores segredos, os receios, as angústias, serão exclusivos à nossa mente, ou haverá alguém capaz de guardar connosco o mais secreto de nós?

Amar é partilhar tudo o que em nós existe, corpo, sim, mas essencialmente a nossa alma, porque essa é a nossa verdadeira intimidade, reservada a muito poucos, se calhar apenas a nós, sendo que podemos durante a nossa vida estar com inúmeras pessoas e viver em plenitude com elas, mas a nossa intimidade deverá ser sempre preservada e entregue, porque nos queremos dar, porque o nosso amor vale a confissão... a nossa alma...

Escrito por Marisa às 10:00
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Segunda-feira, 10 de Abril de 2006

Instinto fatal... mas pouco

Fui ver o filme!

E quanto ao filme, tenho a dizer que podia muito bem ter ficado em casa... mas a Sharon ... valeu o bilhete.

A sequela é só uma tentativa (muito mal conseguida), de tentar relançar a actriz nas luzes da ribalta, tem muito pouca qualidade, mas eu quero lá saber!

Agora a  Sharon Stone , aquele ar superficial, altamente sedutor, frio, pérfido, tenaz, isso fez-me dar o tempo por bem empregue.Tem uma tal sedução que me faz ficar colada à tela, e esquecer o raio do filme, quero lá saber quem matou quem, ou se o psiquiatra endoideceu, até eu ficava doida, o que acho fascinante é a manipulação dela, a sensualidade que brota de cada poro, o riso subtil , a aparente despreocupação, afinal controlou tudo como muito bem quis, porque os restantes limitaram-se a babar...

Resumindo, fui ver um filme de péssima qualidade (só me consigo lembrar do 'Crime do Padre Amaro', como comparação), mas vim de lá com ego em alta, e completamente obcecada por uma vontade louca de reproduzir as cenas cortadas do filme...

Se a banda sonora era boa? Sei lá. Se o David Morrissey contracenou bem, não me parece, a estrela é sem dúvida aquela brasa de 46 anos, que continua com tudo em cima, com uma sensualidade de fazer transpirar.

Parece-me que tem agora um carisma , um charme, um savoir-faire, que não conseguiu da primeira vez. A idade faz isto nas pessoas, nas mulheres sobretudo, adquire-se uma segurança, um saber estar, um 'que se foda ', que as torna fascinantes.

Valeu a pena ver o filme, pelo charme que dela brota, pelo olhar distante, mas com algo de poderoso e depois pelo que se pode fazer, após o vislumbramento de uns seios como aqueles, aquelas pernas fantásticas, o cinto, os lençóis de cetim...

Escrito por Marisa às 11:10
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Sexta-feira, 7 de Abril de 2006

Amor proibido

Só quem viveu entende
Amor proibido.
Mexe com a essência da gente,
Com o libido.
Tudo fica mais excitante.
No encontro escondido
O coração bate forte,
O rosto cora.
Num simples toque de mão.
Não há quem suporte
A emoção da primeira vez,
É emoção de mais.
Mistura de medo e paixão
Arrependimento jamais.
Os sentimentos saltam aos olhos,
As palavras saem entrecortadas.
Parece que o mundo inteiro
Vai descobrir esse pecado.
Mas com tanto amor assim,
Com certeza seremos perdoados.

                                                         Rafael do Nascimento Monteiro




 


Quem quer saber de perdão... hummmmm

Escrito por Marisa às 15:18
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Quarta-feira, 5 de Abril de 2006

Luxúria ou a arte de amar...

Quem me conhece (bem), sabe que luxúria é das palavras que mais gosto, porque está carregada de simbolismo, porque é muito mais que a palavra, faz-me mordiscar o lábio inferior, fazer um sorriso tudo menos inocente, recordar o melhor, basicamente luxúria é um vero piacere...

E não tomo a luxúria apenas como o seu conceito a dita, ou seja libertinagem, sensualidade, amar. Luxúria pressupõe, arte, o gosto pelo prazer e dar prazer...

Luxúria é um estado de alma, onde nos abstraímos do mundo, do quotidiano, da vida e nos concentramos no prazer, no momento, no acto. E como artistas construímos a solo ou dueto, ou grupo, porque não, algo de belo de único, mágico, precioso, prazenteiro.

Pressupõe um desprendimento total de preconceitos, tabus, não importa o sexo, a idade, mas o momento, a pele, a respiração, a transpiração, o salero, a dedicação, a imaginação, a entrega principalmente a entrega total... o piacere.

A arte de amar precisa de dedicação, de saber, de criatividade, de sedução, de pecado, e luxúria é pecado, mas um pecado verdadeiramente delicioso, que apenas alguns conseguem.

Escrito por Marisa às 14:55
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