Tínhamos combinado algo de muito especial…
Devo dizer que há muito não me arranjava tão sublimemente, ou pelo menos com essa ansiedade e entusiasmo.
O meu vestido preto de costas desnudadas, as minhas sandálias de salto alto de camurça, o cabelo apanhado com um travessão, e a maquilhagem, o perfume, tudo bem cuidado.
-Vou buscar-te por volta das 21:00! - Pensava eu enquanto passava creme nas pernas.
As 21.00 chegaram e eu ia jurar que demoraram dias a chegar tal era a expectativa do que me esperava… e chegaram as 21:30… e as 22:00.
E um telefonema apressado:
-Querida perdoa-me, não vamos poder sair, surgiu um grande imprevisto, assim que esteja despachado, vou ter à tua cama.
Vais é o caralho – pensei eu – não vou ficar aqui o resto da noite, dentro deste vestido a ver comédias românticas, a chorar baba e ranho e a esperar que tu chegues sabe-se lá quando, pra me dares um beijinho dizeres desculpa e já está… desta vez não!
Se não vens tu, vou sair eu, afinal estou tão especialmente sexy hoje…
Comi qualquer coisa, já que o jantar estava adiado e saí, podia ter ligado a uma amiga, ou a um amigo, ou ter ido ao bar do costume, mas não, fui para bem longe, onde dificilmente alguém me conhecerá, onde a misteriosa mulher possa estar longe de tudo, provavelmente de si, para depois voltar à grande frustração que seria aquela noite.
Passei por um bar que me pareceu bem, calmo, gente bonita, balcão enorme como eu gosto, música ao vivo.
Entrei.
Pedi uma marguerita, sentei-me a balcão e fiquei a ouvir a música de soslaio, agradava-me aquela nova faceta da minha vida, algo de impensável até então!
Nunca me lembro de ter ido a um sítio sequer semelhante aquele, sozinha, e a verdade é que me estava a saber muito bem. Entregue a mim própria…
Aproximou-se uma voz masculina, que me perguntou:
-Sozinha?
-Sim, e pretendo continuar assim.
-Peço perdão, com licença.
E continuei, ali sentada a ver alguns pares a dançar, alguns casais a rirem e namorar, o que me magoava profundamente.
-Desculpe, mas devo insistir, posso convidá-la para dançar?
-Pode, eu é que insisto que pretendo continuar aqui.
-É óbvio que ficou pendurada, ninguém vem tão deslumbrante para um bar, para ficar ao balcão a tomar margueritas, a ouvir música e a roer por dentro.
Por uma vez tive de levantar a cabeça, olhá-lo de frente… quem pensa ele que é, a confrontar-me com a realidade?
E o que vi, foi um homem de meio idade tremendamente charmoso, não consigo apontar-lhe uma característica especifica que me encantasse, mas o todo era fenomenal, um sorriso absolutamente avassalador.
-Sabe que noutras circunstancias, ou já o teria mandado para algum sitio?
-Provavelmente, mas ambos perderíamos com essa rispidez, vá lá a sua noite não tem que ficar estragada, só porque não foi o que pretendia, deixe-me ajudá-la a recuperar…
Levou-me para uma mesa, pediu outra marguerita e ficámos ali durante horas que pareceram escassos minutos, a falar e a rir, e a saborear uma amarga noite, que se revelou maravilhosa, prazerosa.
Trocámos os números de telefone, combinámos uma saída para breve.
Se o voltarei a ver… não sei, mas que a noite foi inesquecível, disso não tenho a mais pequena dúvida.
Cheguei a casa já quase amanhecia, despi-me na sala, como faço sempre, fui directa à casa de banho e quando me ia deitar, reparei que ele já dormia… ahahahaha...