Começo a ficar com saudades da lareira… e do que faço em frente à lareira.
Saudades de chegar a casa, fazer fogueira e ir tomar um grande banho, no meio da espuma, e do vapor, e dos sais… e de mim…
Um corpo frio a entrar naquele paraíso, o cheiro do quentinho, tocar numa pele fria com uma esponja quente, sentir a arrepiar a alma, enterrar-me na água… que saudades.
Sair do banho renovada, limpa, quente… também por fora… limpar-me, perfumar-me, pentear-me, vestir o meu kimono e levitar até junto da lareira.
Tenho sempre mais tempo pra mim, ficar ali, às vezes horas, a olhar para as chamas que nunca são iguais e me dizem sempre tanto, ler, ouvir música, comer, ver um bom filme… fazer amor… hummmm
Que saudades de fazer amor em frente à minha lareira.
Sentir o corpo a transpirar, os corpos felizes, os gemidos, a beleza da penumbra, e um desejo incontrolável que nos faz despir e amar, ali mesmo, corpos húmidos, cansados e ter a lareira como testemunha e talvez um cálice de vinho, o crepitar da lenha, que som maravilhoso...
Os nossos sons e aquele som.
E estar nua, com o calor a proteger ou talvez provocar o meu corpo, e brincar comigo ali em frente ao quentinho, e ouvir a chuva miudinha a cair lá fora e o espreguiçar e o ronronar, que saudades de ronronar em frente à minha lareira… ahahahahahahaha
Adormecer ali, tão preenchida, com uma companhia tão fiel, com um conforto só meu… e mais uma acha…
Aquela luz é magia, aquele brilho é único, a sombra que faz nas paredes, incomparavelmente belo, a alegria que sinto, por ter o prazer de me contemplar por entre aquelas sombras, o meu corpo naquela penumbra, sempre uma descoberta…
De luzes apagadas, tudo tem outra dimensão, o silêncio e o escuro, fazem-nos perceber quem somos de verdade, e aquela música de fundo basta-me, para passar um serão muito feliz, em que me encontro sempre…