Quarta-feira, 2 de Agosto de 2006

Alexandre- o grande

Eu estava preparada para tudo, julgo eu… menos para aquilo…
Apareceu à minha frente, feito num trapo completamente de rastos, a chorar como só uma criança.
E correndo o risco de ser pérfida, achei aquela, uma das mais belas imagens de que me recordo, tal a sua carga emocional…
O Alexandre sempre tinha sido aquele homem que eu achava intransponível, seguro, forte, robusto, emocionalmente muito estável, frio por vezes nas sensações mais impensáveis, naquele dia era uma criança completamente perdida.
E foi talvez por ver aquele homem de metro e noventa e cinco, musculado e normalmente cara de poucos amigos, profundamente abatido que me suscitou tamanha admiração.
 
                      
 
-Desculpa, eu sei que não temos muito confiança entre nós, mas é visível que não estás bem… posso ajudar?
Ao ver que eu tinha notado a sua fragilidade, ficou ainda mais inseguro, mas tentou a todo o custo recompor a sua imagem de inflexível, que estaria supostamente, seriamente ameaçada.
-Eu estou bem, obrigada, deixa lá, coisas da vida.
-Pois é natural que sejam, mas sabes que o facto de assumires que as sentes, que te tocam, que te magoam, não te tornam menos homem, ou menos forte, é se calhar outra grandeza que desconhecias…
Ficou imóvel a olhar pra mim, a verdade é que noutras circunstâncias eu era incapaz de lho dizer, o seu ar superior só suscitava nas mulheres o ar desprezível que se faz, a quem se julga superior a todo o custo.
-Se calhar… podes vir tomar um café comigo… rápido?
Agora foi a minha vez, ia desmaiando, o Alexandre, o grande, o inacessível, a perguntar-me se podia ir tomar café com ele, ai como eu gostava que tivesse sido noutra ocasião pra lhe dar um redondo e brutal ‘não’, mas fiz um ar sereno pedi-lhe dois minutos e acedi a seu pedido.
Saí da passadeira onde corria, limpei o rosto transpirado, bebi dois goles de água, consertei os calções, o top, respirei fundo e fui com ele tomar um café, que na realidade foi só mais uma água.
-Então, queres contar-me?
-Na realidade não, mas só o facto de teres querido vir comigo tomar café, já me faz muito bem.
-A verdade é tu és uma pessoa distante, é difícil manter um diálogo contigo, porque te retrais sempre, porque te fechas no que és.
-…a minha mulher saiu de casa e o homem frio e austero que dizes, não conseguiu impedi-la, demovê-la dessa atitude, não consegui deixar o orgulho de lado, dizer-lhe que a amo e quero ficar com ela,  fiquei imóvel a vê-la partir… nunca pensei que doesse tanto e à medida que o tempo vai passando, vai-se tornando demasiado dolorosa esta situação…
-Mas só depende de ti, mostra-lhe e mostra-te um outro Alexandre, que anda aí dentro desses músculos, algures, diz-lhe o que me estás a dizer, não tens que deixar de ser forte, mas podes ser também sensível a quem te rodeia. O teu corpo já dominas, agora aprende a dominar a tua alma, a controlar o que sentes e a deixar transparecer isso…
Acabei de lhe dizer isto e percebi que provavelmente tinha exagerado, que tinha sido incisiva, que lhe tinha dito o que julgava, sem nunca pensar a quem o estava a dizer, esperava dele uma resposta azeda ou talvez um simples 'não te me metas no que não sabes', mas não, ouviu serenamente ...
Olhou para mim, respirou fundo com ar de missão, dirigiu-se ao balcão pagou as águas e disse-me… ‘preciso de me despachar...hoje finalmente, vou ser grande’…
Escrito por Marisa às 09:04
Piacere | Grazie
De Pintelho Marciano a 2 de Agosto de 2006 às 16:14
As coisas nem sempre são o que parecem.....as pessoas nem sempre são como querem que as vejam...Faz tudo parte do jogo...da vida...de tudo!
O abraço ...da ordem!
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